terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sétimo Encontro, 15 de maio

Encontro realizado na Oficina Pedagógica do Gama juntamente com os cursistas da Arte de Contar Histórias sobre:

Leitura: dialogismo e horizontes de experiências

com a professora Sônia Soares - GMult





Planejamento do Encontro:
ALFABETIZAÇÃO e LINGUAGEM – MÓDULO 2
7º Planejamento – 15 de maio

FORMAÇÃO CONTINUADA

"Cada um lê com os olhos que tem
e interpreta a partir de onde os pés pisam."
Frei Leonardo Boff

OBJETIVOS DO ENCONTRO:
§ Refletir sobre o que é texto. Discutir sobre a linguagem, leitura, dialogismo e horizontes de experiências.

PROGRAMAÇÃO

1. LEITURA COMPARTILHADA
A lenda de Aracne

2. SOCIALIZAÇÃO
Retomada das discussões do fascículo 1.

3. REDE DE EXPERIÊNCIAS
· Os horizontes de quem escreve e de quem lê
· Experiências prévias

4. APROFUNDAMENTO
· Dialogismo e estética da recepção
· Texto não-verbal: imagem propaganda Campari, Perfume do Boticário, seriado Hoje é dia de Maria
· Plano de expressão e plano de conteúdo do texto

5. AVALIAÇÃO
§ O que eu gostei?
§ O que eu critico?
§ O que eu sugiro?

5. Trabalho Pessoal – A ser desenvolvido para o Portfólio
· Como você tacharia "O Show" de um aluno de 7ª série? É um texto? Incoerente? Sem sentido? Há elementos lingüísticos estabelecendo elos entre as informações?

6. Para Saber Mais...
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
CHEVALIER, Jean. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil – teoria e prática. São Paulo: Ática, 1983.
CURY, Maria Zilda Ferreira; FONSECA, Maria Nazareth Soares; WALTY, Ivete Lara Camargos. Palavra e imagem – leituras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
ECO, Umberto. A obra aberta. Tradução de Sebastião Uchoa Leite. São Paulo:Perspectiva, 1976.
_____.Seis passeios pelos bosques da ficção. Trad. Hildegard Feist. São Paulo: Cia. Das Letras, 1994.
FREIRE, Paulo, A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1988.
JAUSS, H. R. A História da Literatura como provocação à teoria literária. São Paulo:Ática, 1994.
OSTROWER, Fayga. A sensibilidade do intelecto: visões paralelas do espaço e tempo na arte e na ciência. Rio de Janeiro: Campus, 1998. Petrópolis: Vozes, 1986.
MAINGUENEAU, Dominique. Pragmática para o discurso literário. São Paulo; Martins Fontes.
_____. Termo – Chave da Análise do Discurso. Belo Horizonte, UFMG.

7. Registro Reflexivo
Escrever avaliando o encontro.

Apostila entregue pela professora Sônia Soares:

Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
GMULT/NBL
DRE – Gama
Professora – Sonia Soares

1º - ENCONTRO
Tema - Leitura: dialogismo e horizontes de experiências

1.- Interação (A lenda de Aracne)
1.1- Texto Verbal (aplicação de uma metodologia)

“Andorinha no coqueiro
Sabiá na beira-mar
Andorinha vai e volta
Meu amor não quer voltar.”

Os horizontes de quem escreve e os de quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As leituras produzem interpretações que levam a avaliações que revelam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de valores sustentados ou sugeridos pelo texto.
A análise da trova confirma o pensamento de Boff.

Trova:
Poesia popular simples, em forma de quadra (quarteto) versos heptassílabos; freqüentemente com rimas no segundo e quarto versos.

· Qualquer pessoa/criança que tenha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozinha esse texto; ou poderia ouvi-lo por meio de outros e decifrá-lo.
· Qualquer um que soubesse ler e conhecesse o que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a andorinha e o sabiá, qual dos dois pássaros vai e volta e quem não quer voltar. Mas, será que a resposta a estas questões bastaria para assegurar que a trova foi compreendida?
A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber sobre pássaros e amores; vai depender do horizonte de experiências do ouvinte-leitor.
Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito.

1. Eu poético
Existe um “eu” que associa pássaros à pessoa amada
Ele observa que as andorinhas migram (“vão e voltam”), mas seu amor foi e não voltou.
Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada – ambas partiram em um dado momento.
O assunto da trova é “o relacionamento amoroso”, “a dor-de-cotovelo” pelo abandono.

2. Experiências prévias (vivida pessoalmente ou vivida através da ficção):
Diferentes emoções podem ser suscitadas
Alívio por estarmos próximos de quem amamos
Cumplicidade por estarmos distantes de quem amamos
Desilusão por não acreditarmos mais no amor
Esperança de encontrar alguém diferente...

3. O texto não responde às indagações “meu amor não quer voltar” e “quem é esse eu”:
Por que ele não quer voltar?
O que teria provocado a separação? (Distância? Medo? Imposição do querer? Controle?)
O amor acabou?
Apaixonou-se por outra ou por outro?
Outros projetos de vida foram mais fortes que o amor; os estudos, a carreira...?
Eu feminino ou eu masculino?

Está instalada a polêmica das diversas vozes que circulam nas práticas sociais. Estamos falando em teoria do Dialogismo e da Estética da recepção.

1.2- Texto Não-Verbal (imagem As botas / Campari / Perfume do Boticário e imagem do seriado Hoje é dia de Maria)

“Todo texto constitui em si mesmo uma imagem, uma superfície exposta ao olhar”
(Maingueneau)

O que é um texto?

O texto é, antes de tudo, uma imagem!
A imagem vale-se de letras e desenhos – elementos verbais e não-verbais.

INFORMAÇÃO VISUAL
INFORMAÇÃO NÃO-VISUAL
LEITURA

(através dos olhos) LEITURA (por detrás dos olhos)

BERIMBAU
(Manuel Bandeira)

Os aguapés dos aguaçais
Nos igapós dos Japurás
Bolem, bolem, bolem.
Chama o saci: - Si si si si!

- Ui ui ui ui ui! uiva a iara

Nos aguaçais dos igapós
Dos Japurás e dos Purus.
A mameluca é uma maluca.
Saiu sozinha da maloca
O boto bate – bite bite...
Quem ofendeu a mameluca?

- Foi o boto!

O Cussaruim bota quebrantos.
Nos aguaçais os aguapés

- Cruz, canhoto!

Bolem... Peraus dos Japurás
De assombramentos e de espantos!...

PLANO DE EXPRESSÃO - Aspectos estéticos e formais, Recursos gráfico-visuais,Elementos lingüísticos - PLANO DO CONTEÚDO

O Show

O cartaz
O desejo

O pai
O dinheiro
O ingresso

O dia
A preparação
A ida

O estádio
A multidão
A expectativa

A música
A vibração
A participação

O fim
A volta
O vazio

Como você tacharia “O Show” de um aluno de 7ª série? É um texto? Incoerente? Sem sentido? Há elementos lingüísticos estabelecendo elos entre as informações?

O texto é uma unidade de sentido, pressupõe interação e comunicação.

Segundo o teórico russo Mikhail Baktin, a linguagem é, por natureza, dialógica, isto é, sempre estabelece o diálogo entre pelo menos dois seres, dois discursos, duas palavras.
Diz Bakhtin:

Os enunciados não são indiferentes uns aos outros, nem auto-suficientes; são mutuamente conscientes e refletem um ao outro... Cada enunciado é pleno de ecos e reverberações de outros enunciados, com os quais se relaciona pela comunhão da esfera da comunicação verbal [...]. Cada enunciado refuta, confirma, completa e depende dos outros; pressupõe que já são conhecidos, e de alguma forma os leva em conta.
Assim, toda interação pressupõe uma relação de reciprocidade, uma ação mútua entre dois ou mais objetos, entre duas ou mais pessoas.


O que é o leitor?
Receita de um leitor ideal (trabalhar com a faculdade de imaginar // música ao fundo “Aquarela” de Toquinho)

O leitor para o cronista seria aquele a quem bastasse uma frase,
Uma frase? Que digo? Uma palavra!
O cronista escolheria a palavra do dia: “Árvore”, por exemplo,
ou “Menina”.
Escreveria essa palavra bem no meio da página, com espaço
em branco para todos os lados, como um campo aberto aos devaneios
do leitor.
Imaginem só uma meninazinha solta no meio da página.
Sem mais nada
Até sem nome.
Sem cor de vestido nem de olhos.
Sem se saber para onde ia...
Que mundo de sugestões e de poesia para o leitor!
E que cúmulo de arte a crônica! Pois bem sabeis que arte é
Sugestão...
E se o leitor nada conseguisse tirar dessa obra-prima, poderia o
Autor alegar, cavilosamente, que a culpa não era do cronista.
Mas nem tudo estaria perdido para esse hipotético leitor
Fracassado, porque ele teria sempre à sua disposição, na página,
Um considerável espaço em branco para tomar seus
Apontamentos, fazer os seus cálculos ou a sua fezinha...
Em todo caso, eu lhe dou de presente, hoje, a palavra “Ventania”.
Serve?
QUINTANA, Mário. Poesia Completa. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguillar, 2005.

Estratégias de leitura (imagens do livro OH!)

“Cada um lê com os olhos que tem
E interpreta a partir de onde os pés pisam.”
(Frei Leonardo Boff)

O leitor ativa algumas estratégias em relação à imagem no papel (na tela, no cartaz etc.):

- Seleção
- Inferência
- Antecipação
- Verificação

Estratégia de Seleção - tem a ver com os elementos imagéticos ou verbais que você escolhe e ativa para criar significação.
Estratégia da Inferência - tem a ver com o que você imagina que possa ser a informação fornecida a partir dos dados que dispõe sob o olhar.
Estratégia da Antecipação – tem a ver com a sua previsão ou hipótese de um sentido possível imaginado por você.
Estratégia de Verificação – é quando você busca indícios que comprovem, na situação de comunicação, que você está certo (a) em relação ao sentido construído/imaginado por você.

2º dia -Aplicação das estratégias de leitura na obra “De fora da Arca” (Ana Maria machado e Laurent Cardon)

QUEM FEZ A ARCA?
(domínio público/ versão de Ana Maria Machado)

Quem fez a Arca?
Noé, Noé...
Quem fez a Arca...
Foi Noé quem fez a arca
Lá vêm os bichos, dois a dois
Uns comem carne, outros comem arroz...
Lá vem os bichos, quatro a quatro,
Uns chegam do campo, outros saem do mato...
Quem fez a Arca?
Noé, Noé...

Quem fez a Arca...
Foi Noé quem fez a arca
Lá vêm os bichos, seis a seis,
Uns chegam ligeiros
Outros levam um mês...

Quem fez a Arca?
Noé, Noé...
Quem fez a Arca...
Foi Noé quem fez a arca
Lá vêm os bichos, oito a oito,
Vão ficando tão cheio que nem
cabe um biscoito...

Quem fez a Arca?
Noé, Noé...
Quem fez a Arca...
Foi Noé quem fez a arca
Lá vêm os bichos, dez a dez,
Uns vêm aos pulinhos, uns se
Arrastam sem pés..

Quem fez a Arca?
Noé, Noé...
Quem fez a Arca...
Foi Noé quem fez a arca
Lá vêm os bichos, doze a doze,
Uns se descabelam, outros nem
perdem a pose.

Observação:

Cada texto constitui uma proposta de significação que não está inteiramente construída. A significação se dá no jogo de olhares entre o texto e o seu destinatário (horizonte de experiências/ conhecimento prévio).

2º Encontro – Obras infanto-juvenis (12/06/2008)

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